quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Poliandria e Poliginia

Casamento de um homem zulu (África do Sul) com quatro mulheres

«O matrimónio é poligâmico quando uma pessoa é casada ao mesmo tempo com duas ou mais pessoas do outro sexo. O casamento poligâmico denomina-se poliginia, se é o homem a ter mais de uma mulher; se, pelo contrário, for a mulher que tem mais de um marido, chama-se poliandria.

Embora na maior parte das sociedades domine a poliginia (…), a maioria dos homens tem uma só mulher, quer porque as sociedades que adoptam a monogamia abrangem a massa da população mundial, quer porque o número de mulheres não é suficiente para permitir a prática da poliginia em larga escala, nem sequer nas sociedades que adoptam esta forma de casamento.

A poliginia está cada vez menos difundida nos países muçulmanos (onde é expressamente permitida pelo Alcorão, cujo texto diz: “Desposa mulheres à tua escolha, duas, três ou quatro”), sendo hoje praticada, quase sempre, por aqueles que detêm as posições sociais mais elevadas.

A poliginia está, pelo contrário, amplamente difundida em muitas regiões da África subsariana, onde a proporção dos homens casados que têm mais de uma mulher vai dos 12% aos 40% do total, conforme os países.

Um dos factores que torna possível a poliginia nesta área é a forte diferença (cerca de 10 anos) que decorre entre a idade do casamento dos homens e das mulheres: à volta dos vinte e cinco anos e dos quinze anos, respectivamente. Além disso, por causa da forte diferença de idade e da elevada taxa de mortalidade presente nessas sociedades, as mulheres ficam viúvas muito cedo.

Nessas sociedades a poliginia difundiu-se também porque oferece algumas vantagens económicas e sociais. Para um homem dessa região, desposar mais mulheres significa ter mais filhos e mais prestígio. E permite produzir mais bens agrícolas, uma vez que o cultivo de plantas alimentares concerne quase sempre às mulheres. Por outro lado, visto que as mulheres se devem dedicar ao cultivo ou aos trabalhos domésticos, a chegada de uma nova mulher pode ser vista com agrado pelas outras mulheres, porquanto isso comporta a redução da sua carga de trabalho.

São poucas as sociedades que adoptam a poliandria. As mais conhecidas e estudadas são as do Tibete e da Índia [bem como do Butão, do Sri Lanka e algumas sociedades esquimós]. Em tais sociedades difundiu-se a família poliândrica fraterna, que se forma quando uma mulher desposa ao mesmo tempo dois ou mais irmãos e com eles vive; uma vez casados, os irmãos têm os mesmos direitos e as mesmas obrigações para com a prole e a mulher comum: os irmãos devem todos trabalhar para sustentar a família, enquanto a mulher deve cumprir as tarefas domésticas para todos e, no tocante às relações sexuais, deve passar, à vez, uma noite com um dos irmãos.

A poliandria ocorre em sociedades em que o infanticídio feminino faz com que existam bastante menos mulheres que homens [como sucede, ou sucedia, nalgumas zonas da Índia] ou em sociedades com poucos recursos. No Tibete, por exemplo, a propriedade fundiária de uma família é transmitida a todos os filhos em comum, e não dividida em lotes que poderiam não ser suficientemente grandes para manter a família de cada um; por isso, os irmãos têm em comum a terra e também a mulher.»

Lucia DeMartis, Compêndio de Sociologia, Edições 70, Lisboa, 2006, pp. 139-141.

2 comentários:

Minhacaixa disse...

Gostei ajudou visto que tem pouca matéria por ai falando sobre esse assunto.

Juan Santos disse...

Informação é sempre útil