sábado, 8 de junho de 2013

Ex-membro de seita poligâmica diz que a descriminalização pode ajudar a acabar com abusos

Um crescente número de pessoas está deixando comunidades poligâmicas depois de lutar com éditos e abusos, disseram ontem grupos sem fins lucrativos que lidam com comunidades fundamentalistas em Utah.

Quando elas deixam as sociedades fechadas, elas frequentemente entram num mundo novo e estranho — com poucos recursos.

"Viver a poligamia é um estilo de vida desafiador. Abandonar a poligamia é desafiador", disse Shelli Mecham, coordenadora do Comitê Safety Net, uma coalizão de funcionários do governo, grupos se serviço social, ativistas, ex-membros e membros ativos de grupos fundamentalistas criado para fornecer recursos para vítimas de abuso dentro de comunidades poligâmicas.

O grupo, apoiado pelo Centro de Apoio à Família, realizou uma conferência sexta-feira para assistentes sociais, terapeutas e outros funcionários do governo , para que eles aprendam a lidar com pessoas que enfrentam abusos e outros problemas dentro de uma sociedade isolada. Ex-membros de alguns dos grupos poligâmicos compartilharam suas histórias sobre como suportaram anos de abuso e encontraram forças para sair.

Tonia Tewell, diretora do grupo sem fins lucrativos Holding Out Help, disse que viu um aumento estável de pessoas abandonando a Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (FLDS, na sigla em inglês), na divisa entre os estados do Arizona e de Utah. Ela disse que isso acontece por causa dos éditos cada vez mais bizarros sendo elaborados pelo líder da Igreja FLDS, Warren Jeffs, que está preso.

"Warren provavelmente está mais no comando hoje do que jamais esteve. He vai cair como um mártir", disse ela à emissora de TV FOX 13. "Ele não morreu oficialmente mas está definitivamente mais poderoso hoje do que nunca".

Jeffs está servindo prisão perpétua, mais de 20 anos de cadeia, numa prisão do Texas por agressão sexual a crianças. Tewell disse que o êxodo estável de pessoas que escolhem deixar ou são expulsos está sobrecarregando os recursos de seu grupo.

"Uma vez que você é expulso, você perde sua família, você perde seus amigos, você perde toda a sua estrutura de apoio, sua religião, você sai com as roupas nas costas e, se tiver sorte, seus filhos", disse. "É de partir o coração".

Num entrevista para a FOX 13 sexta-feira, a principal testemunha num processo criminal contra Jeffs sugeriu que a descriminalização da poligamia pode ajudar a quebrar o ciclo de abusos.

"Acho que possivelmente criaria algumas soluções interessantes para os problemas", disse Elissa Wall. "E permitiria para as pessoas que escolhem viver desse modo sair do armário e começar a ter um impacto geracional nas pessoas que são educadas".

Wall tinha 14 anos quando foi forçada a casar com seu primo numa cerimônia presidida por Jeffs. Ela testemunhou contra ele num caso que levou à sua condenação numa acusação de estupro como cúmplice. A condenação de Jeffs foi derrubada pela Suprema Corte de Utah.

"A poligamia é o grande véu que acoberta abuso infantil, falta de educação, abuso contra esposas, abuso físico, mental, todas essas coisas diferentes...", disse Wall ontem.

Nos anos desde que Jeffs foi condenado, Wall tem sido franca sobre os abusos dentro da poligamia, incluindo casamento com menores de idade. Ela disse que continua trabalhando com pessoas que vivem em casamentos plurais e com aquelas que escolheram deixar o estilo de vida. Wall disse que seu foco agora não é a poligamia em si, mas em parar com o abuso e impedir que crianças sejam prejudicadas.

Ela disse que a descriminalização da poligamia pode criar um ambiente de "consentimento informado", onde pessoas escolheriam se querem viver nesse estilo de vida, acabando com gerações de sigilo.

"Se [a poligamia] for descriminalizada e você der a homens e mulheres o direito de escolha, você criaria um ambiente muito mais saudável tanto para a própria comunidade quanto para as pessoas vivendo nela", disse Wall à FOX 13. "Porque as pessoas poderiam entrar e sair se escolherem. Mais do que qualquer coisa, minha crença pessoal é que criando essa fundação para um estilo de vida poligâmico saudável é o único modo que vamos impactar a juventude. É o único modo que vamos protegê-la".

Algumas das pessoas que ainda vivem — e acreditam — no princípio do casamento plural insistem que a descriminalização permitiria às pessoas relatarem abertamente potenciais abusos sem temer que a família inteira fosse processada.

"As pessoas estão com medo de virem à tona porque têm medo dos processos e isso, em alguns casos, impedem as pessoas de relatarem às autoridades sobre alguns potenciais abusos", disse uma mulher chamada Leslie, uma autodenominada mórmon fundamentalista.

Heidi Foster, membro da Sociedade Cooperativa do Condado de Davis, disse que os esforços de mobilização como o Comitê Safe Net só podem ajudar se as pessoas ainda temerem que a família inteira vai ser processada.

"Queremos contribuir com a sociedade. Queremos ser amigos de nossos vizinhos. Até que não sejamos considerados criminosos, não nos sentimos que realmente temos a oportunidade de servir nossa comunidade da maneira que queremos", disse.

O Gabinete do Procurador Geral de Utah tem uma política de longa data de não processar polígamos por causa de questões relacionadas à liberdade de religião. Mas os promotores têm acusado pessoas por bigamia em conjunto com outros crimes, como abuso e fraude.

O gabinete do procurador geral disse que a descriminalização é algo que os polígamos deveriam levar a seus legisladores. Alguns polígamos, recentemente, tem feito lobby na Assembléia Legislativa de Utah num esforço para levar os legisladores a considerarem a idéia.

Um processo judicial aberto pelo polígamo Kody Brown e suas esposas contestando a proibição do estado de Utah à poligamia está, atualmente, sendo questionado num tribunal federal. Kody e sua família são as estrelas do reality show Sister Wives, exibido, nos EUA e no Brasil, pelo canal por assinatura TLC.

Com informações do site da emissora de TV FOX 13.

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