sexta-feira, 7 de junho de 2013

Um homem e uma mulher não é única configuração de família na Bíblia, afirmam teólogos

Nos EUA, em plena discussão sobre o casamento gay, três pesquisadores de importantes universidades de Iowa publicaram há cinco dias um estudo sobre a questão do casamento na Bíblia. Hector Avalos, Robert R. Cargill e Kenneth Atkinson são professores universitários e afirmam que a Bíblia não coloca o casamento como algo entre um homem e uma mulher, ao contrário. Confira o texto na íntegra traduzido por nós:
O debate sobre igualdade no casamento frequentemente centra-se, por mais que discretamente, num apelo à Bíblia. Infelizmente, tais apelos frequentemente refletem uma falta de conhecimento bíblico por parte daqueles que usam essa coleção complexa de textos como uma autoridade para decretar política social moderna.

Como estudiosos acadêmicos da Bíblia, desejamos esclarecer que os textos bíblicos não apoiam a alegação frequente de que o casamento entre um homem e uma mulher é o único tipo de casamento considerado aceitável pelos autores da Bíblia.

O fato de que o casamento não é definido apenas como aquele entre um homem e uma mulher reflete-se no verbete sobre "casamento" no competente Eerdmans Dictionary of the Bible (2000): "Casamento é uma expressão de padrões familiares de parentesco nos quais tipicamente uma mulher e pelo menos uma mulher coabitam publica e permanentemente como uma unidade social básica" (pág. 861).

A frase "pelo menos uma mulher" reconhece que a poligamia não apenas era permitida, mas algumas figuras bíblicas polígamas (p.ex. Abraão, Jacó) foram altamente abençoados. Em 2 Samuel 12:8, o autor diz que foi Deus quem Deus múltiplas esposas a Davi: "dei-te a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em teus braços; (...) e, se isto fora pouco, eu teria acrescentado tais e tais coisas" (Revised Standard Version).

De fato, havia uma variedade of uniões e configurações familiares que eram admissíveis nas culturas que produziram a Bíblia e estas variavam da monogamia (Tito 1:6) àquelas em que vítimas de estupro eram forçadas a se casar com seu estuprador (Deuteronômio 22:28-29) e àquelas ordens de casamento levirato que obrigavam um homem a se casar com a viúva de seu irmão independente do estado civil do irmão vivo (Deuteronômio 25:5-10; Gênesis 38; Rute 2:4). Outros insistem que o celibato era a opção preferida (2 Coríntios 7:8, 28).

Embora alguns possam ver a interpretação de Jesus para Gênesis 2:24 em Mateus 19:3-10 como um endosso da monogamia, Jesus e outros intérpretes judeus concederam que havia também entendimentos não-monogâmicos dessa passagem no judaísmo antigo, incluindo aqueles que permitiam divórcio e segundo casamento.

Na verdade, durante uma discussão do casamento em Mateus 19:12, Jesus até encoraja aqueles que podem se castrar "para o reino" e viver uma vida de celibato.

Esdras 10:2-11 proíbe o casamento inter-racial e ordena àquelas pessoas de Deus que já tinham esposas estrangeiras a se divorciarem delas imediatamente.

Então, enquanto não é correto afirmar que os textos bíblicos permitiriam casamentos entre pessoas do mesmo sexo, é igualmente incorreto declarar que um casamento entre "um homem e uma mulher" é o único tipo de casamento admissível considerado legítimo nos textos bíblicos.

Este não é apenas nossa opinião acadêmica moderna. Esta visão de definições múltiplas de casamento "bíblico" tem sido reconhecido por alguns dos mais proeminentes nomes na cristandade. Por exemplo, o célebre reformacionista Martinho Lutero escreveu uma carta em 1524 na qual ele comentou sobre a poligamia como segue: "Confesso que não posso proibir uma pessoa de se casar com várias esposas, pois isto não se opõe às Sagradas Escrituras".

Consequentemente, devemos nos guardar contra a tentativa de usar textos antigos para regular ética e morais modernas, especialmente aqueles textos antigos cujos endossos de outras instituições sociais, tais como escravidão, seriam universalmente condenados hoje, mesmo pelos mais partidários dos cristãos.
O texto original pode ser encontrado no site The Des Moines Register.

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